sábado, 18 de julho de 2020

Dia Internacional da Mulher Negra



Projetos transformadores de alunas valorizam a cultura e história negras

No 'Movimento Meninas Crespas', de Porto Alegre, meninas combatem o preconceito racial e enaltecem sua negritude


Após presenciarem um caso de racismo com uma colega dentro da escola, estudantes se reuniram com o professor para conversar sobre a importância de exaltar sua negritude. Elas se sentiram encorajadas a fazer algo para combater as inúmeras "brincadeiras" racistas que vivenciavam por conta da textura de seu cabelo ou da cor de sua pele. Nascia, assim, o Movimento Meninas Crespas: a valorização do cabelo crespo como resgate da identidade negra, criado por alunas do ensino médio da Escola Casa Emancipa Restinga, localizada em Porto Alegre (RS). A iniciativa foi uma das finalistas da última edição do Desafio Criativos da Escola, organizado pelo programa Criativos da Escola, do Instituto Alana.

Na semana do Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho, o programa Criativos da Escola, do Instituto Alana, apresenta cinco projetos transformadores de estudantes que estão valorizando a cultura e a história negra, além de discutir sobre o racismo. As iniciativas foram desenvolvidas por jovens do ensino fundamental ou médio e promoveram reflexões sobre a luta que as mulheres negras enfrentam no dia a dia e sobre o preconceito duplo que sofrem, de gênero e de raça.

A data foi criada em 1992, durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas e é considerada um marco na luta das mulheres negras em todo o mundo. No Brasil, o dia foi oficialmente reconhecido em 2014, por meio da Lei nº 12.987/2014 e, desde então, o país celebra o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza foi líder do Quilombo de Quariterê, no Mato Grosso, no século 18.

Movimentos Meninas Crespas

As jovens de Porto Alegre (RS) se reuniram em um grupo para promover atividades dentro e fora da escola. O coletivo realizou trocas de experiências que visavam à valorização da estética e do cabelo crespo para resgatar a identidade afro-brasileira e o poder do feminino, além de celebrar a ancestralidade negra. Além disso, foram propostos debates em forma de roda de conversa para contextualizar situações, analisar fatos e debater assuntos relacionados à população negra. Com o tempo, as famílias das estudantes também começaram a participar das oficinas e rodas propostas pelo coletivo.

Além dos debates, o grupo ofereceu oficinas, entre elas a de dança afro que se tornou apresentação em eventos do bairro. O coletivo criou, ainda, uma biblioteca comunitária e afrocentrada por meio de campanhas de arrecadação de livros sobre a negritude, a fim de que a comunidade pudesse conhecer mais a história negra. E, agora, as adolescentes iniciaram as gravações para o documentário que contará a história do projeto.

Conheça abaixo outros quatro projetos protagonizados meninas negras que abordam a valorização da mulher negra na sociedade. As iniciativas também foram destaque na última edição do Desafio Criativos da Escola:

Além dos Genes: fortalecendo as culturas negras: depois de mapear se a autodeclaração da raça dos moradores correspondia aos dados oficiais, alunas de Cascavel (CE) criam projeto para valorizar e fortalecer a identidade e a cultura negra no município. Focadas, especialmente, na comunidade quilombola da BICA, as jovens promoveram debates sobre a questão racial na comunidade e oficinas para resgatar a cultura local.

Cota não é esmola: pret-o-conceito: alunas do Rio de Janeiro (RJ) criam espetáculo teatral que retrata a questão do preconceito racial sob a perspectiva das cotas raciais. A peça apresenta o racismo velado vivenciado no dia a dia pelos estudantes no ambiente escolar e também fora dele.

Literatura afro-brasileira: (re) descobrindo nossa identidade: estudantes de Natal (RN) criam projeto que valoriza a literatura afro-brasileira, além de ressaltar a necessidade de discussão de temáticas como racismo, empoderamento, estética negra e representatividade dos afrodescendentes em cargos relevantes.

Sarilho: nossa história vira cena: estudantes de São Vicente Ferrer (MA) criam uma companhia de teatro que retrata a cultura quilombola, suas vivências e histórias, além de despertar o protagonismo e o sentimento de pertencimento e identidade dos alunos.

Sobre o Instituto Alana

O Instituto Alana é uma organização da sociedade civil, sem fins lucrativos, que aposta em programas que buscam a garantia de condições para a vivência plena da infância. Criado em 1994, é mantido pelos rendimentos de um fundo patrimonial desde 2013. Tem como missão "honrar a criança".

Foto: Photogenia/Freepik

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