Projetos transformadores
de alunas valorizam a cultura e história negras
No 'Movimento Meninas Crespas', de Porto Alegre, meninas combatem o preconceito racial e enaltecem sua negritude
Após presenciarem um caso de racismo com uma colega dentro
da escola, estudantes se reuniram com o professor para conversar sobre a
importância de exaltar sua negritude. Elas se sentiram encorajadas a fazer algo
para combater as inúmeras "brincadeiras" racistas que vivenciavam por
conta da textura de seu cabelo ou da cor de sua pele. Nascia, assim, o Movimento Meninas Crespas: a valorização do cabelo crespo como resgate da
identidade negra, criado por alunas do ensino médio da Escola Casa Emancipa
Restinga, localizada em Porto Alegre (RS). A iniciativa foi uma das finalistas
da última edição do Desafio Criativos da Escola, organizado pelo programa
Criativos da Escola, do Instituto Alana.
Na semana do Dia da Mulher Negra Latino Americana e
Caribenha, celebrado em 25 de julho, o programa Criativos da Escola, do
Instituto Alana, apresenta cinco projetos transformadores de estudantes que
estão valorizando a cultura e a história negra, além de discutir sobre o
racismo. As iniciativas foram desenvolvidas por jovens do ensino fundamental ou
médio e promoveram reflexões sobre a luta que as mulheres negras enfrentam no
dia a dia e sobre o preconceito duplo que sofrem, de gênero e de raça.
A data foi criada em 1992, durante o 1º Encontro de Mulheres
Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas e é considerada um marco na luta das
mulheres negras em todo o mundo. No Brasil, o dia foi oficialmente reconhecido
em 2014, por meio da Lei nº 12.987/2014 e, desde então, o país celebra o Dia
Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Tereza foi líder do Quilombo
de Quariterê, no Mato Grosso, no século 18.
Movimentos Meninas Crespas
As jovens de Porto Alegre (RS) se reuniram em um grupo para
promover atividades dentro e fora da escola. O coletivo realizou trocas de
experiências que visavam à valorização da estética e do cabelo crespo para
resgatar a identidade afro-brasileira e o poder do feminino, além de celebrar a
ancestralidade negra. Além disso, foram propostos debates em forma de roda de
conversa para contextualizar situações, analisar fatos e debater assuntos
relacionados à população negra. Com o tempo, as famílias das estudantes também
começaram a participar das oficinas e rodas propostas pelo coletivo.
Além dos debates, o grupo ofereceu oficinas, entre elas a de
dança afro que se tornou apresentação em eventos do bairro. O coletivo criou,
ainda, uma biblioteca comunitária e afrocentrada por meio de campanhas de
arrecadação de livros sobre a negritude, a fim de que a comunidade pudesse
conhecer mais a história negra. E, agora, as adolescentes iniciaram as
gravações para o documentário que contará a história do projeto.
Conheça abaixo outros quatro projetos protagonizados meninas
negras que abordam a valorização da mulher negra na sociedade. As iniciativas também
foram destaque na última edição do Desafio Criativos da Escola:
Além dos Genes: fortalecendo as culturas negras: depois de
mapear se a autodeclaração da raça dos moradores correspondia aos dados
oficiais, alunas de Cascavel (CE) criam projeto para valorizar e fortalecer a
identidade e a cultura negra no município. Focadas, especialmente, na
comunidade quilombola da BICA, as jovens promoveram debates sobre a questão
racial na comunidade e oficinas para resgatar a cultura local.
Cota não é esmola: pret-o-conceito: alunas do Rio de Janeiro
(RJ) criam espetáculo teatral que retrata a questão do preconceito racial sob a
perspectiva das cotas raciais. A peça apresenta o racismo velado vivenciado no
dia a dia pelos estudantes no ambiente escolar e também fora dele.
Literatura afro-brasileira: (re) descobrindo nossa
identidade: estudantes de Natal (RN) criam projeto que valoriza a literatura
afro-brasileira, além de ressaltar a necessidade de discussão de temáticas como
racismo, empoderamento, estética negra e representatividade dos
afrodescendentes em cargos relevantes.
Sarilho: nossa história vira cena: estudantes de São Vicente
Ferrer (MA) criam uma companhia de teatro que retrata a cultura quilombola,
suas vivências e histórias, além de despertar o protagonismo e o sentimento de
pertencimento e identidade dos alunos.
Sobre o Instituto Alana
O Instituto Alana é uma organização da sociedade civil, sem
fins lucrativos, que aposta em programas que buscam a garantia de condições
para a vivência plena da infância. Criado em 1994, é mantido pelos rendimentos
de um fundo patrimonial desde 2013. Tem como missão "honrar a
criança".
Foto: Photogenia/Freepik
Foto: Photogenia/Freepik
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