Ao pensar em como evitar a
gravidez, a pílula é sempre a primeira opção lembrada. Mas, hoje já existem
inúmeros métodos contraceptivos que ampliam as possibilidades e podem facilitar
a escolha de acordo com as circunstâncias de cada mulher ou também da adaptação
de cada organismo.
Para indicar um método anticoncepcional, seja ele de curta
ou longa ação, o médico deve avaliar o perfil de cada paciente, entender as
suas expectativas e mostrar as vantagens e desvantagens de cada opção.
Conhecidos como LARCs (Long Acting Reversible Contraception
ou Contracepção Reversível de Longa Duração, em português), esses
contraceptivos atrelam facilidade de utilização ao bloqueio da fertilidade pelo
tempo desejado, ou seja, oferecem contracepção por muito mais tempo sem exigir
compromisso periódico e permitem o retorno da fertilidade depois da sua
retirada, geralmente após a próxima menstruação¹.
Há três opções disponíveis, o implante subcutâneo, o dispositivo intrauterino
(DIU) com cobre e o sistema intrauterino (SIU) liberador de levonorgestrel – um
DIU com hormônio.
Como os LARCs não dependem do uso diário sempre na mesma
hora e nem da lembrança da usuária, a taxa de eficácia desses medicamentos é
maior, sendo o implante o primeiro da lista, e por isso são considerados os
métodos anticoncepcionais mais eficazes²,³ pela
Organização Mundial de Saúde (OMS).
Para entender melhor os benefícios, fomos conversar com a
ginecologista Cristina Guazzelli, professora da Escola Paulista de Medicina –
UNIFESP. Na entrevista, a médica esclarece as principais dúvidas sobre esse
tipo de contracepção. Confira!
Como são esses contraceptivos?
Implante
É um bastonete de 4 cm de comprimento, produzido por um material plástico
especial – chamado EVA (etileno vinil acetato) – flexível e estéril. Contém em
sua composição um hormônio sintético, chamado etonogestrel que já é muito
utilizado nas pílulas anticoncepcionais4.
Dispositivo
intrauterino
O DIU é um contraceptivo que é colocado dentro do útero. No
Brasil temos: DIU com cobre e o SIU, um DIU com hormônio
(progesterona).
Onde são colocados?
O implante é inserido no braço não dominante, embaixo da
pele. Tanto o DIU de cobre quanto o DIU com hormônio são colocados dentro do
útero, na cavidade intrauterina.
O procedimento para qualquer um dos métodos é simples,
rápido e costuma ser realizado no consultório médico.
Como funcionam?
Implante
A progesterona, hormônio contido no implante, é liberada gradualmente no
organismo, com a função de inibir a ovulação, garantindo a contracepção e
impedindo a gravidez.
Dispositivo
intrauterino
transformam o útero em um ambiente hostil aos
espermatozóides, evitando a chegada dos mesmos até as trompas.
O DIU com cobre (que é um metal) pode ser utilizado por até
10 anos. O cobre tem ação espermaticida, isto é destrói os espermatozoides,
impedindo sua penetração no útero.
Já o DIU com hormônio libera a progesterona no útero
gradualmente, por cinco anos. Esse hormônio altera a secreção do colo uterino
impedindo e dificultando a penetração dos espermatozoides.
Quanto tempo duram?
O implante contraceptivo tem ação por três anos, o
dispositivo intrauterino com cobre dez anos e o sistema intrauterino (SIU)
liberador de hormônio (levonorgestrel) age por até cinco anos.
O uso de qualquer um deles é reversível, ou seja, pode ser
interrompido se houver o desejo pela maternidade em qualquer momento. Quando
retirados, ocorre o retorno da fertilidade pré-existente imediatamente ou logo
após não importando por quanto tempo a pessoa utilizou o método.
Servem apenas para contracepção?
A função de todos eles é garantir a contracepção e impedir a
gravidez, mas podem ter outros benefícios, como melhorar a cólica menstrual,
diminuir o sangramento, melhorar tensão pré-menstrual.
Por que são mais eficazes que os
demais métodos?
Porque não exigem uma ação diária ou regular da usuária, não
necessitam da lembrança de uso, o que torna a adesão ao método muito melhor.
São 100% eficazes?
Nenhum método contraceptivo é 100% eficaz, mas as taxas de
falha dos LARCs são realmente baixas, quando analisamos a eficácia dos métodos.
A eficácia teórica destes métodos é muito parecida com a eficácia da vida real
(uso típico):
DIU
de cobre
Uma gravidez em cada 125 mulheres que utilizaram o método durante um
ano5
DIU
com hormônio: uma gravidez em cada 500 mulheres que utilizaram o método durante
um ano5.
Implante
Uma
gravidez em cada 2.000 mulheres que utilizaram o método durante um ano5.
Quando comparamos com os métodos mais conhecidos e
utilizados, podemos entender melhor a diferença: a taxa de falha média no uso
típico da camisinha é de 18 a 21 gravidezes por um ano em cada 100 mulheres e
da pílula hormonal 9 gravidezes em cada 100 mulheres que usaram o método5.
Quem pode usar esse tipo de
contracepção?
A princípio, todas as mulheres.que desejam utilizá-los. Há
poucas situações em que os LARCs são contraindicados, por isso há necessidade
de avaliação médica.
A escolha do melhor método para cada mulher deve ser feita
sob orientação médica, após informação sobre todos anticoncepcionais, discussão
sobre seus benefícios, riscos com avaliação das suas necessidades e
preferências.
Por não terem estrogênio, geralmente, os LARCs podem ser
usados por mulheres que estão amamentando ou por aquelas que tem
contraindicação para o uso do estrogênio
Eles modificam a menstruação?
Os métodos que contem hormônio (o implante e o DIU com
levonorgestrel) podem causar alteração no sangramento, produzindo inicialmente
um sangramento irregular com uma tendência a diminuição. Após 4-6 meses,
algumas mulheres podem apresentar redução ou ficar sem sangrar, outras podem
permanecer menstruando normalmente, e em alguns poucos casos, ter pequenos
sangramentos prolongados (mancha na calcinha). No entanto, isso não afeta a
eficácia do método ou gera qualquer risco para a saúde.
Há problemas para engravidar, após a remoção?
Não. A recuperação da fertilidade pré-existente ocorre em
seguida à retirada de qualquer um dos métodos, permitindo que a mulher
engravide após a próxima menstruação caso não haja fatores clínicos precedentes
que dificultem a concepção³.
Foto: Divulgação
Foto: Divulgação
Referências:
[1] Blumenthal PD, et al. Strategies to prevent unintended pregnancy: increasing use of long-acting reversible contraception. Human Reproduction Update 2011;17(1):121-37. Acessado em 27/07/2016. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20634208
[2] Trussel J. Contraceptive failure in the United States. Contraception, 83 (2011) 397–404. Acessado em 15/07/2016. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21477680
[3] World Health Organization department of Reproductive Health and Research (WHO/RHR) and Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health / Center for Communication Programs (CCP), INFO Project. Family planning: a global handbook for providers. Baltimore and Geneva: CCP and WHO, 2011. Acessado em 15/07/2016. Disponível em: http://www.who.int/reproductivehealth/publications/family_planning/9780978856304/en/
[4] Bula do produto
[5] Center for Disease Control and Prevention. U.S. Department of Human Services. Acessado em 15/07/2016. Disponível em: https://www.cdc.gov/reproductivehealth/unintendedpregnancy/pdf/contraceptive_methods_508.pdf
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